UM POUCO DE HISTÓRIA: URUÇUÍ-UNA FOI CRIADA A PARTIR DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL
Em entrevista concedida ao jornal “o eco” no dia 28 de
abril de 2006, Paulo Nogueira Neto,
ambientalista formado em Direito e Ciências Naturais,
primeira pessoa a dirigir a Secretaria Especial de
Meio Ambiente (SEMA), criada em 1973 e 20 anos depois transformada em Ministério,
falou sobre algumas questões ambientais que o Brasil passou na época que esteve
à frente da secretaria, principalmente sobre temas relacionados à politica,
snuc, conama, unidades de conservação, comunidades tradicionais,
desenvolvimento sustentável, dentre outros.
Pela entrevista é possível
identificar o contexto e a forma de surgimento de alguns órgãos, leis, estruturas
e mecanismos de conservação e, provavelmente, o inicio dos problemas
socioambientais que o Brasil enfrenta atualmente, principalmente os
relacionados aos conflitos em Unidade de Conservação (UC), como a Estação Ecológica de Uruçuí-Una, objeto
de estudo do nosso Grupo PET.
Veja as respostas
de Paulo Nogueira quando perguntado sobre a Criação de Unidades de Conservação
e os critérios utilizados:
Paulo – “A SEMA fazia parte do
Ministério do Interior, que era um ministério rico e incluía todo um setor de
desenvolvimento. E exatamente por isso eles queriam fazer alguma coisa para o
meio ambiente, para não dizerem que estavam só destruindo. Eu me aproveitei
disso. Por exemplo, nós compramos a área da reserva do Taim. Tinha dinheiro até
para comprar as áreas das unidades de conservação. A Estação Ecológica de
Aracuri-Esmeralda, no Rio Grande do Sul, nós compramos árvore por árvore de
araucária. Porque o proprietário ia vender para uma serraria o bosque inteiro e
achava que cada árvore tinha um valor. Avaliamos cada uma e pagamos”.
“Eu tinha duas
exigências. A primeira, que fosse uma coisa ecologicamente boa, com bastante
diversidade. A segunda, que não tivesse índio. Não éramos contra os índios, mas
a estrutura da Funai não admite uma área de proteção ambiental especial. Então,
para evitar conflitos, preferimos não criar unidades onde a Funai já estava.
Acho que foi a política certa. As reservas indígenas são muito úteis,
principalmente na Amazônia. Ajudam a preservar a floresta. Mas não queríamos
fazer o que o IBDF fez com o Parque Nacional da Neblina, criado com milhares de
índios dentro que até hoje são um problema que precisava ser resolvido, num
acordo geral”.
Quando perguntado
sobre as comunidades ribeirinhas ele responde:
Paulo – “Em Anavilhanas tiramos o
pessoal que estava nas ilhas e margens do Rio Negro e reassentamos uma parte no
continente, fora da Estação Ecológica, e em outra parte pagamos indenizações e
as famílias foram para a cidade. Não foi bom. Aprendi uma coisa: a gente tem
que respeitar as populações ribeirinhas, mesmo contra a vontade delas. Elas
muitas vezes queriam dinheiro, mas chegaram nas cidades sem ter habilidade
urbana nenhuma. Algumas até voltaram. Todo ambientalista antigo não queria gente
dentro de unidade de conservação, era quase unânime. Eu mudei meu modo de
pensar. Na Reserva Ecológica da Juréia, em São Paulo, o estado pensa em comprar
uma área vizinha para reassentar o pessoal e resolver o problema. Acho que é
por aí”.
Falando em Estação
Ecológica, revela o processo de criação de Uruçuí-Una, no sudoeste do Piauí:
“UMA
DAS MAIORES ÁREAS QUE CRIAMOS NO NORDESTE FOI ESCOLHIDA LENDO JORNAL”,
afirma Paulo.
Paulo - Por métodos hoje não
muito admitidos. Uma das maiores áreas que criamos no Nordeste foi escolhida
lendo jornal. Eu abri o Estado de São Paulo e descobri que a União estava
devolvendo ao estado do Piauí as fazendas que foram dos jesuítas e que o
Marques de Pombal confiscou. No dia seguinte embarquei para o Piauí, me reuni
com o governador e pedi 200 mil hectares. Ele me deu 120 mil hectares e criamos
a Estação Ecológica de Uruçuí Una,
que está lá até hoje. Sem ter visto. A minha teoria era que naqueles 120 mil hectares
tinha que ter coisa boa porque era uma área que não tinha sido explorada. E
tinha mesmo. Sobrevoando vimos bosques de carnaúba, não tinha nada de carnaúba
protegido até então. E é uma região de transição de Cerrado para Caatinga, ecologicamente
muito interessante. Se eu tivesse esperado para fazer estudo e tal, outros já
teriam pedido a área.
Está aí, a origem
dos problemas, mas também a origem da própria UC, talvez se não tivesse sido
dessa forma, esta e outras UCs espalhadas pelo Brasil nem teriam sido criadas e
suas áreas, provavelmente, estariam piores de como se encontram hoje. Fonte: (o eco).
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