Após se espalhar pelo Sul e
Centro-Oeste nas últimas décadas, a soja agora avança pelo Norte e Nordeste
brasileiros, mas encontra a resistência de ambientalistas, que tentam minimizar
os impactos dessa expansão nos dois biomas mais diversos do país – a Amazônia e
o Cerrado.
Em estudo publicado em 2012, a
organização ambientalista WWF Brasil diz que hoje, entre os cinco Estados
brasileiros que concentram os maiores focos de desmatamento em razão da soja,
três são do Nordeste (Maranhão, Piauí e Bahia) e um da região Norte (Tocantins).
Ao avançar pela região, que entre estudiosos passou a ser chamada
de Mapitoba (agregando as iniciais de cada Estado), a soja passa a ocupar o
centro-norte do Cerrado, a última região do bioma em que ainda não estava
presente.
O doutor em agroecologia Cássio Franco Moreira, coordenador do
Programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF Brasil, diz que hoje cerca de 50%
do Cerrado já foi desmatado, “parte significativa em função da soja”.
Segundo ele, pequenos e médios produtores têm promovido
desmatamentos ilegais na Mapitoba, que abriga as últimas áreas de Cerrado
intactas.
Por ora, no entanto, ele diz que o plantio de soja na região é
praticado em sua maioria por grandes produtores. Esses, afirma, são mais
capazes de arcar com os desafios logísticos da região e costumam respeitar a
legislação ambiental. A postura reflete as cada vez maiores exigências de
compradores, que não querem ser associados à destruição do meio ambiente.
Pastagens – Ainda assim, de acordo com o Código Florestal atual,
propriedades no Cerrado podem usar até 65% de suas terras para a atividade
agropecuária, o que abre margem para novos desmates, ainda que legais. Somente
3% do território do Cerrado está protegido por unidades de conservação federal
ou estadual.
Moreira diz, porém, que o Brasil poderia expandir plantações de
soja sem desmatar nada. Ele cita cálculo do governo federal que apontou a
existência de 200 milhões de hectares de pastagens no Brasil. Segundo ele,
é possível transformar até 30% das áreas hoje ocupadas por pastos em
plantações, sem prejuízos para os pecuaristas. “Há incentivos financeiros do
governo para que isso ocorra.”
Enquanto isso, diz o coordenador da WWF, instituições
ambientalistas têm negociado com grandes compradores mundiais da soja a
conservação de áreas prioritárias do Cerrado.
Hoje, os compradores já concordaram em proibir a comercialização
de soja produzida em áreas de floresta recém-desmatada, o que inclui área do
Cerrado conhecida como Cerradão. Agora os ambientalistas tentam incluir na
lista regiões do Cerrado com vegetação mais baixa e rala. Caso consigam,
Moreira prevê que, até 2023, serão desmatados 3% adicionais da área de Cerrado.
“Se expandirmos a produção de acordo com essas regras e se houver
respeito ao Código Florestal, em dez anos podemos ter condições de negociar um
desmatamento zero.”
Acordo na Amazônia – Na Amazônia, apesar da expectativa de expansão da soja nos
próximos anos em Rondônia e no Pará, negociações entre compradores e
ambientalistas já tiveram avanços mais sólidos.
Em 2006, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais), a ANEC (Associação Brasileira de Exportadores de Cereais), o
Greenpeace e outras entidades assinaram um acordo batizado de Moratória da
Soja. O acordo determina que, até janeiro de 2014, as 24 maiores empresas
comercializadoras de soja, que representam 90% do mercado nacional, não comprem
o produto de fornecedores na Amazônia que tenham desmatado após 2006.
“Acreditamos que o acordo foi um dos motivos para a diminuição no
desmatamento na Amazônia nos últimos anos”, afirma Rômulo Batista, do
Greenpeace. (Fonte: UOL)
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